JEFFREY HELLER - Reuters
Israel se desculpou com a Turquia na sexta-feira por
ter matado nove cidadãos turcos em um ataque naval em 2010 contra uma
flotilha que seguia para Gaza, e os dois aliados dos Estados Unidos
concordaram em normalizar as relações, em uma surpreendente reviravolta
anunciada pelo presidente norte-americano, Barack Obama.
A reaproximação pode ajudar a coordenação regional a conter o
alastramento da guerra civil síria e amenizar o isolamento diplomático
de Israel no Oriente Médio, num momento em que o país enfrenta desafios
impostos pelo programa nuclear do Irã.
Em um comunicado divulgado pela Casa Branca poucos minutos antes de
Obama terminar uma visita a Israel, o presidente disse que o
primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e seu homólogo turco,
Tayyip Erdogan, tinham falado por telefone.
"Os Estados Unidos valorizam profundamente nossas parcerias próximas
com a Turquia e Israel, e damos enorme importância à restauração das
relações positivas entre eles a fim de avançar na paz e segurança
regionais", disse Obama.
A primeira conversa entre os dois líderes desde 2011, quando
Netanyahu telefonou para oferecer ajuda depois que um terremoto atingiu a
Turquia, deu a Obama um triunfo diplomático em uma visita a Israel e
aos territórios palestinos, na qual não ofereceu nenhum plano novo para
reviver as negociações de paz congeladas por quase três anos.
O telefonema de 30 minutos foi feito em um trailer na pista do
aeroporto de Tel Aviv, onde Obama e Netanyahu se reuniram antes de o
presidente subir a bordo do Air Force One para a Jordânia, disseram
autoridades norte-americanas.
Israel cedeu a uma exigência antiga de Ancara, que já foi um parceiro
estratégico próximo, de se desculpar oficialmente pelas mortes a bordo
da embarcação turca Mavi Marmara, abordada por marines israelenses que
interceptaram a flotilha que desafiava um bloqueio naval israelense à
Faixa de Gaza administrada por palestinos.
"O primeiro-ministro Netanyahu expressou suas desculpas ao povo turco
por um erro que pode ter levado a muitas mortes, e concordou em
finalizar o acordo para indenização", disse um comunicado oficial
israelense.
Netanyahu e Erdogan "concordaram em restaurar a normalidade entre os
dois países, incluindo a volta dos embaixadores (a seus postos)",
acrescentou a nota.
Uma autoridade norte-americana disse que "Erdogan aceitou o pedido de desculpas em nome da Turquia".
LAÇOS FRAGILIZADOS
Ancara expulsou o embaixador de Israel e congelou a cooperação
militar depois que um relatório da ONU sobre o incidente no Mavi
Marmara, divulgado em setembro de 2011, exonerou em grande parte o
Estado judeu.
Israel já havia se recusado a pedir desculpas aos turcos, dizendo que
isso seria admitir a culpabilidade moral e iria provocar processos
contra seus soldados.
Expressando até agora apenas "pesar" pelo incidente no Mavi Marmara,
Israel tinha se oferecido a pagar o que chamou de "fundo humanitário",
através do qual as vítimas e seus parentes seriam indenizados.
Uma fonte no gabinete de Netanyahu disse que abrir um novo capítulo
com a Turquia "pode ser muito, muito importante para o futuro, em
relação ao que acontece na Síria, mas não apenas o que acontece com a
Síria".
(Reportagem adicional de Dan Williams, Crispian Balmer e Matt Spetalnick)
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