Em Israel, muitos veem a eventualidade de um ataque americano à
Síria como um teste sobre a disposição do presidente dos Estados Unidos, Barack
Obama, em responder com firmeza às pretensões do Irã de dar continuidade ao seu
programa nuclear.
Analistas e líderes políticos locais são quase unânimes em observar a reação
do governo americano às armas químicas na Síria como um sinal sobre o possível
comportamento da Casa Branca em relação ao potencial arsenal nuclear do Irã - um
assunto que causa grande preocupação em Israel.
Para alguns analistas israelenses, a decisão de Obama de pedir ao Congresso
autorização para uma ação militar na Síria seria um sinal de "fraqueza e
hesitação" que põe em dúvida a sua capacidade de cumprir as promessas de impedir
a todo custo que o Irã produza bombas nucleares.
Para Gerald Steinberg, cientista político da Universidade de Bar Ilan, o
pedido da autorização do Congresso é uma tentativa de Obama de "se esquivar" da
responsabilidade de uma operação militar.
Segundo a legislação dos Estados Unidos, o presidente não necessita de
autorização do Congresso para uma ação militar contra outro país, desde que as
tropas americanas não permaneçam em combate por mais de 60 dias.
Em artigo publicado no site de notícias Ynet, Steinberg diz que o governo do
Irã não tem o que temer: "A liderança iraniana pode prosseguir com seus esforços
para obter armamento nuclear. As advertências feitas por Obama ao Irã...se
configuram como meras palavras, sem conteúdo concreto. E, para Israel, qualquer
expectativa de uma ação americana com o objetivo de bloquear o Irã, se distancia
cada vez mais".
Em discurso feito em Washington em 2012, o presidente Obama disse que não
hesitaria em usar força militar na defesa dos Estados Unidos e de seus
interesses. Ele acrescentou que seu governo não iria tolerar que o Irã tivesse
potencial nuclear: "A política de meu governo é impedir que o Irã obtenha armas
nucleares”.
Segundo o ex-embaixador de Israel na ONU (Organização das Nações Unidas) Dan
Gillerman, com a decisão de pedir a permissão do Congresso, o presidente Obama
"admitiu que os Estados Unidos deixaram de ser uma potência e expressou fraqueza
e hesitação".
"Obama demonstrou que seus aliados não têm em quem confiar e seus inimigos
não têm o que temer. Israel não tem em quem confiar, apenas em si mesmo", disse
Gillerman em entrevista à radio estatal Kol Israel.
Lobby e ameaças
O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, mantém a linha de não
interferir abertamente na guerra civil do país vizinho, mas o governo americano
pediu a ajuda do grupo lobista pró-Israel Aipac (American-Israel Public Affairs
Committee, ou Comitê Americano de Assuntos Públicos de Israel, em tradução
livre) para convencer os membros do Congresso dos EUA a aprovarem o ataque
contra a Síria.
De acordo com o jornal Jerusalem Post, nesta semana centenas de
membros do Aipac deverão se unir aos esforços do governo Obama na tentativa de
convencer os congressistas americanos a apoiar a ação militar na Síria, com o
argumento de que "a ausência de ação diante da utilização de armas químicas por
Bashar al-Assad irá encorajar o Irã a prosseguir com seu programa nuclear".
Às vésperas do Ano Novo judaico, comemorado na semana passada, Netanyahu fez
um discurso de advertência aos "inimigos" de Israel.
"Quero dizer a quem quiser nos atacar que não vale a pena", afirmou o
premiê.
Suas palavras foram interpretadas como uma ameaça à Síria e ao grupo
militante xiita libanês Hezbollah, mas sobretudo ao Irã.
Nenhum comentário:
Postar um comentário