Era uma vez um pastor de uma pequena igreja
chamado José (nome fictício).
José era um líder comprometido com Cristo e com
a pregação do Evangelho, no entanto, os resultados do seu trabalho não estavam
aparecendo tão rápido como ele gostaria. Diante disso, os diáconos de sua igreja
resolveram pressioná-lo ameaçando-o com a demissão caso que ele continuasse
pregando sobre temas tão ultrapassados. Afinal de contas, diziam eles, ninguém
está interessado em ouvir sobre, pecado, inferno, salvação das almas, santidade
de vida e compromisso com o Reino. Nos dias de hoje, defendiam os diáconos, o
povo quer ouvir sobre prosperidade, bênçãos, enriquecimento, vitórias e alegrias
perene.
Pois bem, José com medo de perder a Igreja
cedeu a pressão. E a primeira coisa que fez foi transformar a reunião de oração
do meio da semana em culto da prosperidade. O pastor ficou impressionado com o
resultado! Não é que deu certo? Pensou ele consigo mesmo! "Antes tínhamos no
culto 10 pessoas, agora temos 100! Isso é bom demais", vociferou o encantado
pastor. Logo depois, José entendeu que o povo precisava quebrar algumas
maldições hereditárias, para tanto, ele criou a "sexta feira forte da quebra das
maldições provenientes do diabo." Não é que dobraram o número de
frequentadores?
Vendo que suas ações estavam funcionando, José
resolveu não mais pregar o velho evangelho. Na verdade, ele entendeu que o
pastor precisa pregar aquilo que o povo quer ouvir e que essa história de
defender as doutrinas da Bíblia não tá com nada e que a melhor coisa que pode
ser feita por um líder é pregar sobre as bênçãos de Deus.
José estava tão encantado com um número de
pessoas em seus cultos que começou a achar que era uma pessoa especial. Nessa
perspectiva, resolveu ser apóstolo. Pois bem, ele marcou um "poderoso" culto de
coroação e diante de uma platéia extasiada pelo poder, foi consagrado "Apóstolo
principal da fé evangélica cristã dos últimos dias." Se não bastasse isso, o
agora apóstolo José, começou a ter várias revelações que segundo ele, eram tão
importantes quanto a Bíblia. José mesmo passou afirmar que aquilo que falava
tinha o mesmo peso das Escrituras e que devido a isso, ninguém poderia
contrapor-se aos seus ensinamentos e caso alguém o fizesse estaria tocando no
ungido do Senhor.
Um dia, José ao chegar ao aeroporto de sua
cidade para pegar o seu avião particular, encontrou com um antigo amigo de
seminário, que ao contrário do apóstolo manteve-se firme pregando o
evangelho.
José quando viu o colega declarou: "Eu te
abençoo com a minha unção apostólica"
O colega que já sabia das loucuras de José
disse: "Como é que é? Não entendi! Por favor José, me diga em que lugar das
Escrituras encontramos essa história de unção apostólica?"
José, cheio de ira se interpôs a fala do pastor
dizendo: "José não, apóstolo divinizado José. Como ousa falar isso com o ungido
do Senhor?"
O seu antigo amigo, replicou dizendo: "Pelo que
eu saiba o ungido na Bíblia é Cristo e não você!"
José com cara de nojo e desprezo respondeu:
"Cristo me escolheu para ser o patriarca apostólico, portanto, trate-me com
reverência e respeito."
O amigo de José tentando argumentar disse: "O
que houve com você? Cadê aquele servo de Deus que pregava o Evangelho? O que
você se tornou?"
José sem titubeios respondeu dizendo: "Eu não
me tornei, eu sou." Aquele evangelho fraquinho que pregava não produzia frutos.
Deus me concedeu uma grande revelação e agora eu prego o que dá certo." Alias,
já está tarde, estou atrasado, tenho que ir embora."
Estendendo a mão em direção ao amigo, José
mostrou o seu anel apostólico, cravejado de diamantes no intuito de que o antigo
colega de seminário o beijasse.
Como o seu amigo se recusou a cometer tal
sandice, José o amaldiçoou com suas pragas apostólicas.
Pois é, o ex-colega de José, triste com o que
viu, chegou a conclusão que o outrora pastor tinha vendido a alma tanto para o
pragmatismo como para o diabo.
Renato Vargens
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